Coranoavírus: uma opinião

2020-04-13 13/04/2020

Por  Lucia Mariano da Rocha Silla, doutora, professora de Medicina da UFRGS, pesquisadora do CNPq e coordenadora do Centro de Processamento Celular Avançado do HCPA 

A covid- 19 chegou ao Brasil pelo topo da pirâmide populacional.
Houve um rápido espalhamento, sobretudo nas rodas da alta classe. Algumas mortes, inclusive, mas, de forma relativamente rápida, nos enclausuramos nos nossos bem fornidos lares. Bobeia, temos comida para muitos meses, já em casa. Lavamos a mão com água limpa, temos álcool gel e, se tivermos em nossa casa pessoas mais velhas, temos como protegê- las; podemos separar garfos, talheres, banheiros, quartos, com conforto. A disposição abundante de água limpa e tratada nos dá uma segurança enorme. Sem falar no que comemos e nos mil suplementos vitamínicos que estamos tomando ou obtendo da dieta. Acho que estamos relativamente protegidos, ou melhor, podemos nos proteger. 

A curva de positivos vem subindo relativamente devagar e não estamos vendo uma Itália ou Espanha ou EUA por aqui.
Daí a sensação ilusória de que a tragédia não vai acontecer. 

Mas espere. 

A covid- 19 está chegando à população que não tem saneamento básico. Uma população carente de tudo, sobretudo de uma alimentação adequada e de água limpa. A prevalência de doenças bacterianas, virais e microbianas em geral é altíssima nessa população, assim como as doenças degenerativas (cardiovasculares, pulmonares, diabetes etc.). 

As hepatites virais C e B são endêmicas, assim como o citomegalovírus e os demais vírus da mesma família. Sem falar no HPV e no HIV. Há também o espectro impactante da tuberculose - somos um dos Estados com mais casos no Brasil. 

Imagina os esgotos a céu aberto ou não tratados. Estudos com o Sars-CoV (ou com o coronavírus) da epidemia anterior mostraram que foi possível detectar vírus nas fezes por 21 dias após o início dos sintomas.
Não por acaso, essas doenças são transmitidas também pela água.

Sem higienização das mãos, afastamento espacial das pessoas, separação das pessoas em risco ou dos infectados, boa alimentação, suplementação vitamínica (frutas, verduras, ovos etc.), sem água limpa para beber, cozinhar, tomar banho, lavar roupa. 

Temos que nos preparar para isto. Pode ser avassalador. 

Fonte: Jornal Zero Hora - 13/04/2020

Publicações Semelhantes